10/9/13

A garota, o livro azul e a águia

Ela chegou da escola, correu para a cozinha e deu um abraço longo e apertado em sua mãe como se não tivesse visto aquela mãe há menos de poucas horas ou como se tivesse aprendido recentemente que aquele abraço gostoso, apesar de gratuito, pode não se repetir tantas vezes quanto as duas gostariam ao longo da vida.
A mãe, tanto satisfeita quanto curiosa, perguntou qual era o motivo de um presente tão especial. Foi quando a filhota lhe respondeu contando sobre o lindo livro azul que tinha encontrado na biblioteca. Esse livro trazia a estória de uma tribo que existiu há muitos anos em uma terra que, apesar de distante, tinha vários traços parecidos com os da cidade na qual elas viviam.
Mas não foram as semelhanças e sim uma diferença que mais chamou a atenção da menina. Naquela tribo, o amor era percebido de uma forma um pouco diferente. Na tribo, eles acreditavam no amor como uma característica (ou melhor, uma competência) mágica que estava presente em cada um dos membros da tribo.
Quanto mais eles praticavam essa magia, expandindo sua intensidade e efeitos, mais competentes se tornavam em diversas áreas da vida e mais mereciam não só as competências adquiridas mas todo o reconhecimento advindos dos resultados maravilhosos que tamanho poder gerava na vida das pessoas e na resolução de problemas pessoais, da tribo e de toda a floresta. Para os membros daquela tribo, a floresta e o universo era tudo a mesma coisa.
Quando sua mãe perguntou qual parte do livro ela mais gostou, a menina escolheu a passagem na qual uma criança narrava seu sonho mais frequente. No sonho, uma águia descia dos céus e ficava pertinho do riacho conversando sobre suas aventuras e compartilhando sua vasta experiência.

Em uma de suas lições mais valiosas,  a águia falava sobre cinco formas diferentes de amar:
- Toque: abraçar, beijar, apertar a mão, cruzar olhares "talvez". Segundo a águia, essa era a forma mais simples de experimentar pois basta a iniciativa... não tinha como errar.
- Dar presentes. Uma outra forma bem simples e, na percepção da águia, a forma mais fácil do ser amado perceber a existência do amor.
- Trabalho. Essa forma é bem mais simples de executar do que dar presente mas é um pouco menos fácil de ser percebida pelo ser amado. Muito trabalho é realizado por amor no mundo. Mas nem sempre é percebido pelo ser amado. Veja, por exemplo, o caso do amor de várias mães que conhecemos. 
- Fazer elogios. Essa forma é um pouco mais elaborada porque exige o crescimento de quem ama. Fazer um elogia, a um ser amado, exige do amante duas características muito nobres e difíceis de cultivar:
* Visão aguçada; sem a qual, não é possível enxergar o bem na ação ou na intenção do outro.
* Grandeza. Sem grandeza, o amante não consegue vencer o medo natural de se ver diminuído pelo crescimento que seu elogio proporciona ao outro. 

- Passar tempo agradável com a pessoa amada. Essa forma requer um pouco mais de sofisticação pois exige, além do tempo agradável, uma dedicação adicional em descobrir o que o ser amado gosta de fazer e em aprender a apreciar os momentos que os dois passam juntos. Dessa forma, o tempo juntos se torna agradável para os dois. Talvez, no fundo, seja esse o real presente de passar tempo agradável. O ser amado (ainda que inconscientemente) percebe um reforço da certeza de que é amado pois o amante, para poder passar um tempo realmente de qualidade, precisa de bastante dedicação em aprender o que o amado gosta e ainda mais dedicação para executar o que aprendeu além de correr o risco de ter todo o seu esforço ignorado. Essa é uma das provas de amor mais fortes que existem.

No caminho de casa, refletindo dobre o livro, a criança percebeu que não podia comprar um presente pra sua mãe. Pelo menos não hoje e ela não queria esperar mais nem um minuto sequer para começar a usar o que apendeu no livro. Por isso, ao chegar em casa, correu pra cozinha e deu o abraço mais gostoso e intenso que ela conseguiu imaginar.

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