Ela chegou
da escola, correu para a cozinha e deu um abraço longo e apertado em sua mãe
como se não tivesse visto aquela mãe há menos de poucas horas ou como se tivesse
aprendido recentemente que aquele abraço gostoso, apesar de gratuito, pode não
se repetir tantas vezes quanto as duas gostariam ao longo da vida.
A mãe, tanto
satisfeita quanto curiosa, perguntou qual era o motivo de um presente tão especial. Foi quando a
filhota lhe respondeu contando sobre o lindo livro azul que tinha encontrado na
biblioteca. Esse livro trazia a estória de uma tribo que existiu há muitos anos
em uma terra que, apesar de distante, tinha vários traços parecidos com os
da cidade na qual elas viviam.
Mas não
foram as semelhanças e sim uma diferença que mais chamou a atenção da menina. Naquela
tribo, o amor era percebido de uma forma um pouco diferente. Na tribo, eles acreditavam no amor como uma característica (ou melhor,
uma competência) mágica que estava presente em cada um dos membros da tribo.
Quanto mais eles praticavam essa magia, expandindo sua intensidade e efeitos, mais
competentes se tornavam em diversas áreas da vida e mais mereciam não só as
competências adquiridas mas todo o reconhecimento advindos dos resultados maravilhosos
que tamanho poder gerava na vida das pessoas e na resolução de problemas
pessoais, da tribo e de toda a floresta. Para os membros daquela tribo, a floresta e o universo era tudo a mesma coisa.
Quando sua
mãe perguntou qual parte do livro ela mais gostou, a menina escolheu a passagem
na qual uma criança narrava seu sonho mais frequente. No sonho, uma águia descia dos céus e ficava pertinho do
riacho conversando sobre suas aventuras e compartilhando sua
vasta experiência.
Em uma de
suas lições mais valiosas, a águia
falava sobre cinco formas diferentes de amar:
- Toque: abraçar, beijar, apertar a mão,
cruzar olhares "talvez". Segundo a águia, essa era a forma mais simples de experimentar
pois basta a iniciativa... não tinha como errar.
- Dar presentes. Uma outra forma bem
simples e, na percepção da águia, a forma mais fácil do ser amado perceber a existência do amor.
- Trabalho. Essa forma é bem mais simples
de executar do que dar presente mas é um pouco menos fácil de ser percebida pelo
ser amado. Muito trabalho é realizado por amor no mundo. Mas nem sempre é percebido pelo ser
amado. Veja, por exemplo, o caso do amor de várias mães que conhecemos.
- Fazer elogios. Essa forma é um pouco
mais elaborada porque exige o crescimento de quem ama. Fazer um elogia, a um
ser amado, exige do amante duas características muito nobres e difíceis de cultivar:
* Visão
aguçada; sem a qual, não é possível enxergar o bem na ação ou na intenção do
outro.
* Grandeza.
Sem grandeza, o amante não consegue vencer o medo natural de se ver diminuído
pelo crescimento que seu elogio proporciona ao outro.
- Passar tempo agradável com a pessoa
amada. Essa forma requer um pouco mais de sofisticação pois exige, além do tempo
agradável, uma dedicação adicional em descobrir o que o ser amado gosta de fazer
e em aprender a apreciar os momentos que os dois passam juntos. Dessa forma, o tempo juntos
se torna agradável para os dois. Talvez, no fundo, seja esse o real presente de
passar tempo agradável. O ser amado
(ainda que inconscientemente) percebe um reforço da certeza de que é amado pois
o amante, para poder passar um tempo realmente de qualidade, precisa de
bastante dedicação em aprender o que o amado gosta e ainda mais dedicação para
executar o que aprendeu além de correr o risco de ter todo o seu esforço
ignorado. Essa é uma das provas de amor mais fortes que existem.
No caminho
de casa, refletindo dobre o livro, a criança percebeu que não podia comprar um
presente pra sua mãe. Pelo menos não hoje e ela não queria esperar mais nem um
minuto sequer para começar a usar o que apendeu no livro. Por isso, ao chegar
em casa, correu pra cozinha e deu o abraço mais gostoso e intenso que ela conseguiu imaginar.
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