10/31/13

A gangorra do relacionamento


Já faz algum tempo, talvez você nem lembre; mas, quando era bem pequeno, você costumava dar muita atenção e aprender bastante com os mais velhos. Naquele tempo você costumava tratar com muito mais atenção, carinho e respeito tudo o que era diferente de você. E hoje, como você se relaciona com o diferente? Aliás, quem disse que o novo é diferente de você? Talvez você seja o novo!

Sua percepção de mundo foi formada em cima de uma base criada a partir da visão de mundo de suas referências. É bem verdade que cada nova referência foi escolhida levando em consideração um conjunto de referências anteriores (consciente ou inconscientemente). Você desenvolveu uma forma de pensar que foi testada e validada através de anos de experiências e, agora, você tem um conjunto de padrões de comportamento, reações, valores e crenças que funcionam muito bem para todas as situações como as que você viveu e sobreviveu. É um sentimento bem gostoso esse de já "saber alguma coisa da vida" e ter respostas para os problemas que aparecem, não é mesmo? Dá até um gostinho de colo de mãe. Mas, que você acha da frase abaixo?

 "Quando você pensa que tem todas as respostas, vem a vida e muda as perguntas.

Se eu levar a frase a sério, confesso que fico um pouco assustado. Quando éramos crianças, pelo menos tínhamos pouco a perder mas e agora? Pior, o jogo já está pra lá da metade do primeiro tempo. Já não tem mais tanto tempo assim pra virar o jogo. Isso tudo torna-se ainda mais assustador para as pessoas que compreendem a vida como uma batalha ou um jogo no qual há vitoriosos e derrotados.

Como você já acumulou alguns anos de estrada, é bem provável que tenha identificado padrões que se repetem na sua vida. Por exemplo, talvez você já tenha percebido que, se tratar o professor com um respeito parecido com o dedicado aos seus pais, as coisas tendem terminar bem. Se tratar o chefe com um respeito e obediência parecido com o dedicado ao professor, tudo tente a ficar bem também.



De certa forma, seguimos pela vida repetindo padrões e validando experiências que cristalizam aprendizados. E, esses aprendizados acabam por determinar o conjunto da sua obra e, no final, acabam por determinar quem você é.

Mas, e se você não gostar do que é? Não é nenhuma novidade, o filho não gostar do que o pai é. Inconscientemente, o filho já sabe que, tomando as mesmas atitudes do pai, acabará como o pai e, isso, ele não quer. Então, o filho passa a se comportar de forma diametralmente oposta à posição do pai. Sem perceber que os extremos de uma linha infinita estão, na realidade, muito próximos. Ao negar o que o pai é, o filho acaba por confirmar o padrão.

De certa forma, como o filho (ao invés de ser ele mesmo) passa sua via negando o que o pai é, a cada infortúnio da vida (por menor e mais natural que seja) pode ser atribuído, pelo filho, como uma negação de sua forma de pensar e, nesse momento, ao invés de procurar alternativa, o filho volta a ser muito mais o pai do que o próprio pai foi. Com um bônus: nesse momento, muitas vezes, o pai já aprendeu com o filho a mesma lição.

Enquanto não reconhecerem o padrão, continuarão trocando de lugar e, como o sol e a lua, se amando e, ao mesmo tempo, confirmando e negando as próprias teorias sem nunca se encontrar.


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